MATERIAL TREPIDANTE NA FAIXA LIVRE ou PASSEIO / O DISCURSO ERRONEO DO PAVER
O discurso "ecologicamente correto" para o emprego do prever no piso do calçamento, que é 40% mais caro e exige manutenção constante e mão-de-obra "mega" especializada, sempre é:
É necessário permeabilizar o solo para combater as
enchentes!
E porque não um piso permeável na Faixa de Passeio/Livre?
Pois é, na visão linear de muitos nobres políticos cabe às
diminutas calçadas, sobras do viário, o dever de contribuir para a erradicação
das enchentes! Ideia esta vendida pela Associação
Brasileira de Cimento Portland (ABCP). O curioso é que na hora de alterar
planos diretores à revelia para atender interesses econômicos de certos
setores, os nobres “edis” e “alcaides” não pensam nas enchentes.
Mas e na acessibilidade, alguém pensou?
Afinal, o papel primordial das calçadas é o de ter áreas de
passeios que promovam a livre circulação
(com segurança, conforto, autonomia e fluidez), de TODAS as pessoas!
Para o desespero de alguns -, blocos intertravados, assim
como o piso hidráulico de alto relevo e
o concreto estampado, causam trepidação em dispositivos com rodas (Leia
sobre)! Eu, Tuca, circulei fazendo uso de uma cadeira de rodas por calçadas
executadas com estes pisos e senti muita dificuldade para me locomover, fiquei
exausta, bolhas nos dedos, dores nas articulações dos punhos e ombros. Na
Reatech 2010, perguntei para várias pessoas sobre estes pisos (pessoas usuárias
de cadeira de rodas não motorizadas) - dentre elas pessoas que praticam
esportes, portanto, com excelente condicionamento físico - e foram unânimes:
São horríveis!
Escolhem pisos cujas características não seguem o que está
recomendado na norma técnica NBR 9050 e, consequentemente, no Decreto Federal 5.296-04
, impossibilitando, assim, um caminhar seguro e confortável a TODOS os
pedestres?
A largura adequada da área de passeio é primordial para se
promover a caminhabilidade com fluidez, assim como o piso (material) adequado e
as inclinações amenas do passeio são importantes para garantir o conforto e a
segurança do pedestre.
Segundo a Lei 10.098-2000,
já consubstanciada desde a norma técnica NBR 9050-04, o piso:
Deve ter superfície regular, firme, estável e antiderrapante
sob qualquer condição, que não provoque trepidação em dispositivos com rodas
(cadeiras de rodas ou carrinhos de bebê).
Ou seja, conforme o bom-senso (que pelo visto está entrando
em processo de extinção) não deveram utilizar os seguintes pisos na faixa de
passeio:
Pisos de concreto:
Blocos intertravados (pavers).
Estes pisos causam muita trepidação em dispositivos com
rodas. Por serem assentados sobre colchão de areia, com o tempo os blocos
tendem a afundar tornando a superfície do passeio irregular e instável. A
circunferência do pneu traseiro da cadeira de rodas motorizada tem 35,56
centímetros ou 14"polegadas, o pneu dos veículos tem em média 40,64
centímetros ou 16" polegadas, o bloco de pavers mede 10x20, com fenda de
aproximadamente 0,25 de baixo relevo entre a altura deles, a trepidação é
enorme para os dois. Existem alguns
modelos de blocos, sendo uns mais trepidantes que outros.
Ladrilho hidráulico com alto relevo.
Embora apresente superfície regular, firme e estável, esses
pisos também causam trepidação em dispositivos com rodas.
Concreto moldado in loco estampado.
Assim como o ladrilho hidráulico, possui superfície regular,
firme e estável; porém, dependendo do molde que simula estampas de pedras,
tijolos ou cerâmicas, a profundidade do relevo causa trepidação em dispositivos
com rodas como a estampa da imagem que imita o mosaico português. Além de ficar escorregadio quando molhado, devido ao
verniz.
Pisos de pedras:
Mosaico português
Assim como os blocos intertravados, o mosaico também é
assentado sobre colchão de areia, o que torna a superfície do passeio instável;
devido a isso, muitos passeios tiveram as pedras acimentadas para evitar o
desprendimento das mesmas. Sua forma irregular causa trepidação em dispositivos
com rodas e quando molhado esse piso fica escorregadio.
Miracema
Está pedra tem sido muito usada pelos munícipes e, em muitos
casos, acompanhada pela pedra ardósia; escorregadia quando molhada. É um piso
de superfície extremamente irregular causando muita trepidação em dispositivos
com rodas.
No entanto não se surpreendam se algumas prefeituras
estiverem adotando tais pisos como sendo os “ideais” para as faixas de passeio.
Esta prática tem sido tão corriqueira que até mesmo quem discursa em favor da
acessibilidade, da inclusão da pessoa com deficiência, propaga esse equívoco ao
invés de transformar o estado-da-arte.
Acredita que estes pisos possibilitam um caminhar seguro e
confortável a todas as pessoas. Exemplos destas práticas podem encontrar nas
cartilhas sobre acessibilidade nas calçadas elaboradas pelos CREAS - Conselhos
Regionais de Engenharia e Arquitetura - e a ABCP - Associação Brasileira de
Cimento Portland!!!
Para melhor entendimento leia a série: Cartilha de
Acessibilidade nas Calçadas.
Será que os interesses de mercado de grupos econômicos se
sobrepuseram aos interesses do coletivo (sociedade que deve ser inclusiva), da
mesma forma que os interesses do privado no que diz respeito a faixa de acesso
nas calçadas?
Será que ha um Passeio
Livre?
NBR 9050 2004
6.1.1 Pisos
Os pisos devem ter superfície regular, firme, estável e
antiderrapante sob qualquer condição, que
não provoque trepidação em dispositivos com rodas (cadeiras de rodas ou
carrinhos de bebê). Admite-se inclinação transversal da superfície até 2%
para pisos internos e 3% para pisos externos e inclinação longitudinal máxima
de 5%. Inclinações superiores a 5% são consideradas rampas e, portanto, devem
atender a 6.4. Recomenda-se evitar a utilização de padronagem na superfície do
piso que possa causar sensação de insegurança (por exemplo, estampas que pelo
contraste de cores possa causar a impressão de tridimensionalidade).
NBR 9050 2015
6.3.2 Revestimentos
Os materiais de revestimento e acabamento devem ter
superfície regular, firme, estável, não
trepidante para dispositivos com rodas e antiderrapante, sob qualquer condição
(seco ou molhado).
Deve-se evitar a utilização de padronagem na superfície do
piso que possa causar sensação de insegurança (por exemplo, estampas que pelo
contraste de desenho ou cor possa causar a impressão de tridimensionalidade).
NBR 9050 2020
6.3.2 Revestimentos
Os materiais de revestimento e acabamento devem ter
superfície regular, firme, estável, não
trepidante para dispositivos com rodas e antiderrapante, sob qualquer condição
(seco ou molhado).
Deve-se evitar a utilização de padronagem na superfície do
piso que possa causar sensação de insegurança (por exemplo, estampas que pelo
contraste de desenho ou cor possa causar a impressão de tridimensionalidade).